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Porto

Museu de Arte Contemporânea de Serralves

Rua D. João de Castro, 210 - 4150-417, Porto, Portugal
www.serralves.pt 
T: +351 226156500

  

Parque de Serralves

30 de junho a 18 de fevereiro de 2018 

Alicia Barney

1952, CALI, COLÔMBIA. VIVE EM BOGOTÁ, COLÔMBIA

A obra de Alicia Barney levanta questões ligadas à ecologia, promovendo duras críticas ao modelo de desenvolvimento capitalista e sua relação com a natureza. Alguns de seus trabalhos conectam elementos da paisagem aos problemas ambientais, seja através da exibição de água poluída apanhada no rio Cauca, na Colômbia (Río Cauca, 1981-1982), ou do ar coletado em uma zona industrial e exposto em cubos de vidro (Yumbo, 1980). Certa de que aspectos da vida diária se integram à produção artística, Barney desenvolveu também instalações com objetos e materiais recolhidos em seu entorno (Diario objeto I e II, 1977 e 1978-1979, e Un día en la montaña [Um dia na montanha], que integra a série II). Por meio da ideia de artista-xamã, ela destaca o caráter mágico ou ritual de seu vínculo com esses objetos, retomando o gesto de povos indígenas pré-hispânicos. Em Valle de Alicia [Vale de Alicia] (2016), Barney intervém, construindo um instrumento feito de tubos, semelhante a um órgão, para ser tocado aleatoriamente pelo vento. Junto ao instrumento foram instaladas esculturas de cogumelos feitas de papel e resina, sobrepondo uma camada psicodélica àquela paisagem e concatenando a ação do acaso, o estímulo aos sentidos e alterações na percepção do cotidiano.

Bárbara Wagner

1980, BRASÍLIA, BRASIL. VIVE EM RECIFE, PERNAMBUCO, BRASIL

O brega é música, dança, cena cultural e economia criativa na periferia do Recife. Em duas linhagens, funk e romântico, constitui uma cadeia de MCs, DJs, bailarinos, produtores, empresários e público. Seus hits – eróticos, irônicos, lamuriosos e, em alguns casos, ainda machistas – extrapolam os limites socioeconômicos dos bairros e participam da paisagem sonora de uma cidade convulsiva em suas diferenças. A artista Bárbara Wagner, em parceria com Benjamin de Burca, desconstrói esse fenômeno no filme Estás vendo coisas (2016) e o analisa tornando visíveis as singularidades, as errâncias e também algumas relações entre seus agentes. A boate Planeta Show abrigou o experimento de um retrato coletivo e filmado, que, nessa condição, desafia o caráter preciso da fotografia. O resultado não deixa de ser documental, mas é parcialmente ofuscado pela luz artificial de estúdio, camarim, palco e tela, com personagens que encenam a si mesmos.

Carla Filipe

1973, AVEIRO, PORTUGAL. VIVE EM PORTO, PORTUGAL

A obra de Carla Filipe é composta a partir da apropriação de objetos e documentos, ou construída através da relação permeável entre objetos de arte, cultura popular e ativismo. Em sua pesquisa, a artista utiliza-se de materiais e elementos, como bandeiras, cartazes, jornais e artefatos ferroviários, assim como faz intervenções em lugares abandonados ou em desuso. Em Migração, exclusão e resistência (2016), Filipe partiu de uma pesquisa iniciada em 2006, que propunha a construção de hortas e jardins em ambientes urbanos, instaurando o uso coletivo do espaço privado ou a apropriação de espaços públicos destinados a outros fins. Ao articular modos distintos de vida, ela questiona a ideia de propriedade e amplia a noção de sobrevivência. Essa obra nos conta sobre espécies em vias de extinção, vegetais comestíveis pouco conhecidos e sobre plantas que surgem em locais inesperados. Nessa proposta, Filipe cria condições para se pensar sobre forças espontâneas de resistência que funcionam como células autogeridas, e que representam reações aos ditames capitalistas da vida urbana, derivados de iniciativas de caráter hierárquico e privado.

Cecilia Bengolea & Jeremy Deller

1979, BUENOS AIRES, ARGENTINA. VIVE EM PARIS, FRANÇA / 1966, LONDRES, REINO UNIDO. VIVE EM LONDRES

A coreógrafa, dançarina e performer Cecilia Bengolea trabalha em parceria com o artista Jeremy Deller neste projeto que parte de fenômenos da cultura popular contemporânea, sobretudo da música e da dança, para pensar suas relações com a economia, as condições de trabalho e os sistemas políticos. Num complexo emaranhado de influências tradicionais e modernas e alinhados a contextos culturais e políticos específicos, Bengolea e Deller trazem à vista movimentos identitários de resistência e afirmação de gênero, sexualidade e comportamento. A dança popular associada a estilos musicais produziu diversas tendências dentro da cultura urbana das últimas décadas. Assim como o break, o voguing e o twerk, o estilo dancehall de dança e música coloca a linguagem corporal em evidência e mostra uma coreografia peculiar, combativa e, por vezes, sexualizada. É sobre esse gênero, muito popular na Jamaica, que os artistas desenvolveram o vídeo Bombom’s Dream [Sonho de Bombom] (2016).

Gabriel Abrantes

1984, CHAPEL HILL, CAROLINA DO NORTE, EUA. VIVE EM LISBOA, PORTUGAL

Gabriel Abrantes explora a linguagem cinematográfica em sua produção de filmes e vídeos – os roteiriza, dirige, produz e neles ocasionalmente atua. Aborda temas históricos, sociais e políticos ao discutir questões pós-coloniais, de gênero e identidade. Suas obras criam camadas de leituras improváveis ao alterar narrativas tradicionais e tocam o absurdo, o folclore, o humor e a política. Os humores artificiais (2016) foi rodado no Mato Grosso (Canarana e nas aldeias Yawalapiti e Kamayura dentro do Parque Indígena do Xingu) e em São Paulo. Misturando certa estética hollywoodiana com abordagens típicas do registro documental, o filme conta a jornada de um robô programado para ser comediante e que se apaixona por uma indígena. A obra, de natureza insólita, coloca em questão a natureza do humor em diversos grupos indígenas em contraste com o progresso e a inteligência artificial.

Jonathas de Andrade

1982, MACEIÓ, ALAGOAS, BRASIL. VIVE EM RECIFE, PERNAMBUCO, BRASIL

Jonathas de Andrade trabalha com suportes variados, como instalação, fotografia e filme, em processos de pesquisa que têm profundo caráter colaborativo. Sua obra discute a falência de utopias, ideais e projetos de mundo, sobretudo no contexto latino-americano, especulando sobre sua modernidade tardia. Em seu trabalho, afetos que oscilam entre a nostalgia, o erotismo e a crítica histórica e política são agenciados para abordar temas como o universo do trabalho e do trabalhador, e a identidade do sujeito contemporâneo, quase sempre representado pelo corpo masculino. O filme O peixe (2016), apresentado pela primeira vez na 32ª Bienal, acompanha pescadores pelas marés e pelos manguezais de Alagoas, que utilizam técnicas tradicionais de pesca, como rede e arpão, na espera pelo tempo necessário para capturar a presa. Cada pescador encena uma espécie de ritual: eles retêm os peixes entre seus braços até o momento da morte, uma espécie de abraço entre predador e presa, entre vida e morte, entre o trabalhador e o fruto do trabalho, no qual o olhar – do pescador, do peixe, da câmera e do espectador – desempenha papel crucial. Situada num território híbrido entre documentário e ficção, a obra dialoga com a tradição etnográfica do audiovisual.

Öyvind Fahlström

1928, SÃO PAULO, BRASIL – 1976, ESTOCOLMO, SUÉCIA

Öyvind Fahlström é considerado o primeiro artista e poeta a usar o termo “poesia concreta”. Tomando como ponto de partida a musique concrète de Pierre Schaeffer, Fahlström criou poemas sonoros para serem ouvidos como música e tornarem mais complexa a língua sueca. A sua peça radiofónica experimental Fåglar I Sverige [Pássaros na Suécia] resulta de uma estrutura operática que permite revelar toda uma rede de referências. A combinação de música e linguagem, com um princípio organizativo altamente complexo, permitiu a Fahlström explorar em profundidade a complexidade da linguagem e os seus elementos contraditórios.

Priscila Fernandes

1981, COIMBRA, PORTUGAL. VIVE EM ROTERDÃ, HOLANDA

Em sua produção, Priscila Fernandes reflete sobre o impacto dos contextos industrial e pós-industrial na vida dos indivíduos e em sua percepção sensorial. Em vídeos, publicações, desenhos, pinturas, performances e instalações sonoras, ela aborda as disputas sociais que estão no centro de decisões estéticas de diferentes movimentos modernos. Na 32ª Bienal, Fernandes apresenta três imagens fotográficas, um conjunto de mobiliário e um filme, que constituem a instalação GOZOLÂNDIA E OUTROS FUTUROS (2016). Realizadas por meio de um processo de técnica mista, as imagens são resultado da impressão de negativos expostos à luz, e nos quais a artista intervém por meio de pintura, perfurações e riscos. O mobiliário, um conjunto de cadeiras de praia, convida o público a um momento de pausa, embora de forma ambígua, pois, diante das obras, o visitante se encontra entre contemplação e análise, distração e atenção, descanso e trabalho. O filme, realizado inteiramente no Parque Ibirapuera, faz referência ao país da Cocanha, mito medieval sobre a existência de um lugar onde há comida abundante, clima ameno e onde o trabalho é desnecessário. A instalação articula relações entre a estética da abstração e a dicotomia trabalho/ócio, atualizando essa discussão para o contexto de hoje.

Hall do Museu

30 de junho a 18 de fevereiro de 2018

Lais Myrrha

1974, BELO HORIZONTE, MINAS GERAIS, BRASIL. VIVE EM SÃO PAULO, BRASIL

Lais Myrrha investiga instrumentos e saberes que constroem nossa experiência no mundo a partir do lugar que nele ocupamos. Dicionários, mapas, bandeiras, hinos, jornais e telejornais são alguns dos elementos sobre os quais a artista interfere. Para ela, a arte é uma possibilidade de se lançar em zonas de instabilidade, em situações nas quais o familiar se torna estranho e a lógica convencional parece falhar. Myrrha explora em suas obras a noção de impermanência e a história contada do ponto de vista dos “vencidos”, assim como a precariedade dos conceitos de equivalência e equilíbrio. Um elemento importante de seu processo de criação é a escolha e o uso preciso dos materiais, o que revela sua atenção à capacidade de significar, de funcionar de modo simbólico e condensar narrativas. Em Dois pesos, duas medidas (2016), a artista constrói duas torres com as mesmas dimensões, compostas de materiais empilhados. De um lado, materiais empregados nas construções indígenas (cipó, toras de madeira, palha) e, de outro, aqueles usados nas edificações típicas brasileiras (tijolo, cimento, ferro, vidro, canos) – dois modos construtivos que corporificam modos de vida e dois projetos distintos de sociedade que, ainda que sejam potência de construção, já anunciam suas formas de ruína.

Leon Hirszman

1937, RIO DE JANEIRO, BRASIL – 1987, RIO DE JANEIRO

O cinema de Leon Hirszman tem a noção de trabalho como matéria-prima e eixo norteador. Assumindo que o sujeito transformador da história são os trabalhadores, Hirszman considerava sua tarefa como cineasta a organização dos registros das diversas formas de luta e resistência dessa classe social, de modo que se tornassem sua memória. Seus filmes trazem a marca de experiências históricas concretas, como as greves dos metalúrgicos na região do ABC paulista, na década de 1970. É esse o caso também de Cantos de trabalho, trilogia filmada entre 1974 e 1976, nas cidades de Chã Preta (AL), Itabuna (BA) e Feira de Santana (BA). Em cada um desses locais foram registrados trabalhadores rurais exercendo suas atividades: mutirão para amassar o barro, colheita e pisa de cacau e colheita de cana, respectivamente. Enquanto trabalham, eles entoam cantos que atuam como marcadores rítmicos, ao mesmo tempo que firmam o lastro de sociabilidade envolvido no esforço físico coletivo. Filmados em uma linguagem que busca tempos e enquadramentos precisos para revelar o trabalho com todos os seus detalhes, os documentários são acompanhados de uma narração que enfatiza a importância do registro dessa prática cultural que, já naquela época, se encontrava em vias de desaparecer.

Lourdes Castro

1930, FUNCHAL, PORTUGAL. VIVE NA ILHA DA MADEIRA, PORTUGAL

Desde a década de 1950, Lourdes Castro se dedica à criação de livros de artista, objetos, desenhos, serigrafias, vídeos e performances baseados na convivência com elementos de seu cotidiano, em especial paisagens e plantas que cultiva em sua casa- ateliê na Ilha da Madeira, Portugal. Paralelamente, o interesse por formas de desmaterialização do objeto artístico levou-a à pesquisa das sombras, tema central de sua produção. Na série Sombras à volta de um centro (1980-1987), a artista pousa uma jarra com flores sobre o papel, debaixo de um foco de luz; a base da jarra é o centro das sombras que Castro contorna minuciosamente com lápis de cera, de cor ou nanquim. Esse procedimento simples dá origem a um herbário de rastros topográficos com cores que enfatizam áreas diferentes em cada peça. 

Galeria Contemporânea

30 de junho a 18 de fevereiro de 2018

Sonia Andrade

1935, RIO DE JANEIRO, BRASIL. VIVE NO RIO DE JANEIRO

Com uma produção pioneira em vídeo nos anos 1970, Sonia Andrade agrega em sua trajetória a arte-correio, o desenho, a fotografia e a instalação. Sua obra acontece independentemente das regras do mercado ou do sistema da arte brasileira vigentes naquele período. Seus vídeos experimentais colocam o corpo no centro da ação, construída na relação direta com a televisão como meio. Sem espetacularização, seu corpo entra em confronto com a tela e com o aparelho, ora disposto no centro da imagem, ora introduzido em uma gaiola – uma metáfora para a imagem televisiva como aprisionamento. Andrade participa da 32a Bienal com o trabalho Hydragrammas (1978-1993), um conjunto de cerca de cem objetos e suas respectivas reproduções, construídos com materiais coletados e que organizam o vocabulário de formas da arte e da vida cotidiana. Os objetos derivam de uma espécie de escrita na qual os caracteres são coisas encontradas no mundo, matéria de descarte para a qual a artista dá novo lugar e significado. Formado a partir do neologismo que une o nome de uma escrita e o de um monstro híbrido indomável (a Hidra de Lerna), Hydragrammas é o entrecruzamento de palavras e imagens, um alfabeto imagético.

Sala 14

30 de junho a 18 de fevereiro de 2018  

Vídeo nas Aldeias

CRIADO EM 1986. BASEADO EM OLINDA, PERNAMBUCO, BRASIL

Há três décadas, o Vídeo nas Aldeias tem mobilizado debates centrais aos povos indígenas e à produção e difusão audiovisual. O projeto tem como um de seus objetivos a formação de realizadores indígenas, desestabilizando narrativas forjadas com base no olhar externo. Questões éticas e escolhas estéticas são entrelaçadas em seus projetos, que tratam de assuntos como rituais, mitos, manifestações culturais e políticas, e experiências de contato e de conflito com os brancos. Fundado pelo indigenista Vincent Carelli, Vídeo nas Aldeias capta recursos e circula seus trabalhos, realiza exibições em comunidades indígenas, festivais de cinema, televisão, internet e elabora materiais didáticos. Para a 32ª Bienal, Ana Carvalho, Tita e Vincent Carelli criaram a instalação inédita O Brasil dos índios: um arquivo aberto (2016), que configura um espaço de imersão em imagens, gestos, cantos e línguas de vinte povos distintos, entre eles os Xavante, Guarani Kaiowá, Fulni-ô, Gavião, Krahô, Maxakali, Yanomami e Kayapó. Reunidos por sua força discursiva e imagética, os trechos constituem mais um ponto de resistência coletiva às tentativas de invisibilidade e apagamento de grupos indígenas e provocam uma ampla reflexão sobre alteridade e convenções de perspectivas culturais.

Programa Público

30 de junho de 2017
sex: 18h ou 22h30 

  

Grada Kilomba

1968, LISBOA, PORTUGAL. VIVE EM BERLIM, ALEMANHA

Grada Kilomba é uma escritora, teórica e artista que ativa e produz saber descolonial ao tecer relações entre gênero, raça e classe. Sua obra dispõe de formatos e registros distintos, como publicações, leituras encenadas, performances-palestras, videoinstalações e textos teóricos, criando um espaço híbrido entre conhecimento acadêmico e prática artística. É partindo do gesto duplo de descolonização do pensamento e de performatização do conhecimento que Kilomba salta do texto à performance e dá corpo, voz e imagem a seus escritos. Illusions [Ilusões] (2016) é uma performance que usa a tradição africana de contar histórias em narrações e projeções de vídeo. A leitura evoca os mitos de Narciso e Eco como metáforas de um passado colonial e políticas de representação que só espelham a si mesmas.

  

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Campo Sonoro

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Leon Hirszman

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Vídeo nas Aldeias

44 • Canto Mbya Guarani na aldeia Jaraguá
45 • Canto Mbya Guarani na aldeia Araponga
46 • Cantos cerimoniais Guarani Kaiowá e Ñandeva
47 • Flauta tocada por Akuntsu Konibu
48 • Canto de Purá
49 • Cantos de Jamarikumalo
50 • Canto Macuxi

Processos

Bárbara Wagner comenta o filme 'Estás vendo coisas'

Desenhos do instrumento de cogumelos de Alicia Barney

Notas sobre 'Dois pesos, duas medidas', de Lais Myrrha

O Brasil dos índios: um arquivo aberto do Vídeo nas Aldeias

Vídeos

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