61 • Jorge Menna Barreto Restauro (Economia) • Restoration (Economy)

Gravação a partir das pesquisas que compuseram a obra de Jorge Menna Barreto. Aborda questões como a preservação como necessidade, povos da floresta, salada de juçara, consórcios e produtividade, culturas sombreadas e consumo coletivo.

A: Mas o que que vocês vão apresentar?

B: Comida! [risos]

A: Você pensando no nosso sistema digestivo pulmonar.

[risos]

C: Agora não está na perspectiva, vocês...

D: Então, o nosso projeto, por exemplo, 1400, 1000... Vai beneficiar 27 produtores. Mesmo sabendo que uma ceifa dessas é irrisória para uma grande empresa [risos]. Mas para nós é de uma valia enorme até para incentivar. A AF, incentivar a preservação mesmo. Por que você vai produzindo, sobrevivendo da floresta, você está preservando. A gente preserva só o que a gente necessita, não é? Quando a gente necessita da floresta, a gente preserva, agora quando vê que não tem necessidade, as pessoas vão lá… é igual o rio. O nosso rio aqui, antigamente, era o meio de locomoção. Então todo mundo preservava o rio, precisava dele para passar. Era sempre preservado. Depois que passou a ter estrada, aí ninguém quer saber mais do rio. A mesma coisa com as florestas. Então a gente tem que entender que tem que ser agregado aos povos da floresta, que vivem nela; tem que usufruir dela para poder preservar, se manter. Porque quem desmata não somos nós aqui, pequenos produtores das florestas; são os grandes, latifúndios que vêm, derrubam com máquina de esteira que faz aquele estrago. O que a gente faz é manejo. E mesmo quem faz manejo ainda é marginalizado. Se eu quiser fazer uma salada de palmito hoje, eu não posso colher aqui, e se eu colher tem que ser escondido. Eu, dono da propriedade, quero comer uma salada aqui, tem que pegar um palmito escondido, debaixo do braço pelo escuro, sair por ali para nenhum... Senão, se algum policial florestal me vir, eu saio algemado, preso.

E: A produtividade é maior de acordo... Fazer nesse modelo aqui: irrigado, consorciado e começando com folha...

F: Uhum.

E: [...] que a produtividade maior é aqui no início, com folha. Aí quando você faz o SAF igual o pessoal da São Pedro estava apresentando, da frutífera; seis por oito que planta uma fruta, e no meio planta a safra anual. Aí talvez não seja tão produtivo como o convencional. Então eu tenho a produtividade maior na área do que se eu fizer dessa forma. Que aí os manejos são diferentes também. Então, tem que ver isso. Aqui é altamente produtivo, e como ela é consorciada e… É, você pensa na estratificação, você colhe um, para depois o outro crescer. Assim, você aproveita muito mais o espaço. Em uma área pequenininha você consegue produzir o mesmo que você produziria numa área grande. Eu tenho aqui seis canteiros, no caso teria que fazer dezoito canteiros para botar três produtos. Ela plantou cinco produtos em três canteiros, e cada um no seu tempo para produzir. Então esse entendimento tem que ter, não é?

F: Uhum.

E: [...] A escala de produção na questão da estratificação e ao mesmo tempo de cada uma também.

G: Então quando eu cheguei aqui, esse SAF estava todo fechado, ele foi o primeiro SAF que eles implantaram, pelo projeto Agroflorestar. E eles estavam desenvolvendo umas culturas sombreadas, justamente porque eles têm esse problema dessa planta espontânea.

B: Tiririca.

G: [...] que é a tiririca. E aí eu vim... Só que ele estava pouco produtivo, só produzia o inhame e as frutíferas; e todos os agricultores, as famílias assentadas do projeto, eles ainda estão nesse impasse de como utilizar a SAF ao longo do tempo porque eles trabalham com as AF sucessórias.

H: Tem um comentário bem prático que serve como exemplo: meia hora antes de vocês chegarem, eu estava no telefone com o pessoal lá de São Paulo, de um grupo de consumo coletivo. O nome do negócio é CRUCCRUE: Consumo Coletivo Rural Urbano. Eles tão comprando produtos nossos, sempre estão levando coisa para lá. E o que eles me falaram? Eles falaram isso com o Gilberto também; que eles estão promovendo uma visita agora. Já vieram aqui uma vez, mas estão vindo pela segunda. Trinta consumidores de produtos urbanos que fazem questão de produtos orgânicos. E eles fazem questão de comprar direto do produtor aqui; compra do produtor, vai direto para o consumidor lá, não passa em supermercado. Aqueles grupos de compras.

[barulho de motor]

B: Sei, sei...

H: Então, eles querem trazer os consumidores aqui [barulhos de motor] para conhecer a plantação de onde saiu o produto.

B: Uhum.

H: Mas é um movimento interessante. Nós, como produtores, [barulho de grilos] ganhamos um dinheirinho. Assim, não faz um dinheirão porque não é realmente... Estou falando, por exemplo: mandamos uma carga semana passada, estou falando aí de 480 reais. Não é um dinheiro para quem vivia numa cidade grande. Então por isso que eu falo em dinheirinho. I: Às vezes a gente gastava num dia isso daí [risos].

H: É, mais você vê, existe um movimento desse. A semana... Faz 15 dias... eu, Gilberto e Sônia fomos para São Paulo participar de uma reunião com cinco grupos desses aí.

B: Uau.

H: Cinco grupos de consumidores de orgânicos que querem a relação direto do produtor com o consumidor.

Autoria / Authorship:

Jorge Menna Barreto, Marcelo Wasem

Decupagem, criação e edição / Decoupage, creating and editing:

Izabel Süssekind, Marcelo Wasem, Mariana Brum, Nathan Braga, Thatiana Montenegro, Vitor Rocha, Yago Toscano

* Os áudios do Campo Sonoro foram transcritos e/ou editados visando uma leitura mais acessível / All Soundfield's audios were transcribed and/or edited aiming to produce accessible contents